img A viajante do tempo - Diana Gabaldon  /  Capítulo 2 Monumento de pedras 1 | 66.67%
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Histórico

Capítulo 2 Monumento de pedras 1

Palavras: 5177    |    Lançado em: 29/05/2023

um velho galanteador. Veio numa motocicleta, aproximadamente da sua própria idade, para nos transportar ao campo. As prensas de plantas estavam cuidadosamente amarradas às laterais de sua enorme

o balançou a mão, encabulado. - É bom ter um pouco de juventude na casa. Vamos, sente-se, por favor. Frank começou a falar antes mesmo de eu ter colocado a minha bolsa sobre a poltrona. - Uma sorte incrível, Claire - exclamou, entusiasmado, folheando a pilha já surrada. - O vigário encontrou toda uma série de despachos militares que mencionam Jonathan Randall. - Bem, parece que grande parte da importância deve-se ao próprio capitão Randall - observou o vigário, pegando alguns papéis de Frank. - Ele esteve no comando da guarnição em Fort William durante aproximadamente quatro anos, mas parece ter passado grande parte de seu tempo atormentando o interior da Escócia, acima da fronteira, em nome da Coroa. Este lote - cuidadosamente, ele separou uma pilha de documentos e espalhou-os sobre a escrivaninha - é de relatórios de queixas apresentadas contra o capitão por várias famílias e proprietários, reclamando de tudo, desde interferência dos soldados da guarnição com as criadas ao roubo de cavalos, sem mencionar diversos casos de "insulto" ou "não especicados". Não pude deixar de rir. - Quer dizer então que você tem um famoso ladrão de cavalos em sua árvore genealógica? - perguntei a Frank. Ele deu de ombros, sem se perturbar. - Ele era o que era e não há nada que eu possa fazer a respeito. Só quero descobrir. As queixas não são incomuns para a época; os ingleses de um modo geral, e o exército em particular, eram bastante impopulares nas Terras Altas. O que é estranho é que parece que nada aconteceu em decorrência das queixas, nem mesmo das mais graves. O vigário, incapaz de se manter quieto por mais tempo, interrompeu: - Isso mesmo. Não que os ociais naquela época tivessem que se pautar pelos padrões modernos; podiam agir praticamente por conta própria em questões de menor importância. Mas isso é estranho. Não é que as queixas tenham sido investigadas e descartadas; elas simplesmente nunca mais são mencionadas. Sabe do que eu descono, Randall? Seu antepassado devia ter um benfeitor. Alguém que podia protegê-lo da censura de seus superiores. Frank coçou a cabeça, estreitando os olhos para os despachos. - Talvez tenha razão. No entanto, tinha que ser alguém muito poderoso. No topo da hierarquia militar, talvez, ou um membro da nobreza. - Sim, ou possivelmente... - O vigário foi interrompido em suas teorias pela entrada da governanta, a sra. Graham. - Trouxe um pouco de chá, senhores - anunciou, colocando a bandeja com rmeza no meio da escrivaninha, de onde o vigário resgatou os preciosos despachos no momento exato. Ela me examinou de cima a baixo com um olhar perspicaz, com os braços e pernas nervosamente contraídos e o olhar ligeiramente vitricado. - Só trouxe duas xícaras, porque pensei que talvez a sra. Randall quisesse acompanhar-me à cozinha. Tenho um pouco de... Não esperei pela conclusão de seu convite e levantei-me prontamente. Pude ouvir as teorias irrompendo outra vez às minhas costas enquanto atravessávamos a porta de vaivém que levava à cozinha. O chá era verde, quente e perfumado, com pedaços de folhas dando voltas no líquido. - Hummm - disse, abaixando a xícara. - Há muito tempo não tomo Oolong. A sra. Graham assentiu, radiante com o meu prazer por sua bebida. Ela certamente se esmerara, colocando paninhos de renda bordados à mão sob as xícaras de na porcelana e oferecendo creme espesso e coalhado acompanhando os pãezinhos. - Sim, eu não o conseguia durante a guerra. No entanto, é o melhor para a leitura. Tive muita diculdade com o Earl Grey. As folhas se despedaçam tão depressa que ca difícil ler qualquer coisa nelas. - Ah, a senhora lê folhas de chá? - perguntei, achando engraçado. Nada poderia estar mais distante da concepção popular de uma adivinha cigana do que a sra. Graham, com seu permanente curto grisalho e seu colar de pérolas de três voltas. Um gole de chá percorreu visivelmente o pescoço longo e vigoroso e desapareceu sob as contas reluzentes. - Ora, certamente, minha querida. Assim como minha avó me ensinou e minha bisavó para ela. Esvazie a sua xícara e eu verei o que tem aí. Ficou em silêncio por um longo tempo, de vez em quando inclinando a xícara para iluminá-la melhor ou girando-a lentamente nas mãos magras para obter um ângulo diferente. Colocou a xícara de volta no pires cuidadosamente, como se receasse que fosse explodir no seu rosto. As linhas em torno de sua boca aprofundaram- se e as sobrancelhas se uniram numa expressão intrigada. - Bem - disse, nalmente. - Essa é uma das mais estranhas que já vi. - É mesmo? - Eu ainda estava achando engraçado, mas comecei a car curiosa. - Vou conhecer um estranho alto e moreno ou fazer uma viagem através do oceano? - Poderia ser. - A sra. Graham percebeu o tom irônico em minha voz e imitou-o, sorrindo ligeiramente. - E poderia não ser. Isso é que é estranho sobre a sua xícara, minha querida. Tudo nela é contraditório. Há a folha curvada para uma viagem, mas está cruzada pela folha quebrada que signica permanecer no lugar. E há estranhos, sem dúvida, vários deles. E um deles é o seu marido, se eu li as folhas direito. Meu ar zombeteiro se dissipou um pouco. Após seis anos separados e seis meses juntos, meu marido de certa forma era realmente um estranho. Embora eu não conseguisse entender como uma folha de chá pudesse saber disso. A sra. Graham continuava com a testa franzida. - Deixe-me ver sua mão, minha lha - disse ela. A mão que segurou a minha era ossuda, mas estava surpreendentemente aquecida. Uma fragrância de alfazema emanava da cabeça grisalha e bem arrumada que se inclinava sobre mim. Examinou minha mão cuidadosamente por um longo tempo, de vez em quando traçando uma das linhas com o dedo, como se seguisse um mapa cujas estradas acabassem todas nas águas de uma costa arenosa ou em terras ermas e desertas. - Bem, o que diz aí? - perguntei, tentando manter um ar despreocupado. - Ou o meu destino é horrível demais para ser revelado? A sra. Graham ergueu os olhos inquisidores e tou o meu rosto pensativamente, mas continuou segurando a minha mão. Balançou a cabeça, enrugando os lábios. - Ah, não, minha querida. Não é o destino que está em sua mão. Apenas a semente dele. - Inclinou a cabeça para um lado, considerando o que dizia. - Como sabe, as linhas da mão vão mudando ao longo do tempo. Em outro momento de sua vida, elas podem ser bastante diferentes do que são agora. - Não sabia disso. Pensei que a gente nascesse com elas e pronto. - Eu reprimia uma vontade premente de retirar minha mão. - Nesse caso, de que adianta a leitura da mão? - Não queria parecer mal-educada, mas estava achando aquele escrutínio um pouco desconcertante, especialmente depois da leitura das folhas de chá. A sra. Graham sorriu inesperadamente e fechou os meus dedos sobre a palma da minha mão. - Ora, as linhas de sua mão mostram quem você é, querida. É por isso que mudam, ou deveriam mudar. Em algumas pessoas, não mudam; naquelas sucientemente infelizes para nunca mudarem interiormente, mas são poucas assim. - Apertou minha mão dobrada e deu-lhe um tapinha. - Duvido que você seja uma delas. Sua mão já demonstra mudanças demais para alguém tão jovem. Deve ser por causa da guerra, é claro - disse, como se falasse para si mesma. Fiquei novamente curiosa e abri a mão voluntariamente. - O que sou, então, segundo a palma de minha mão? A sra. Graham franziu o cenho, mas não segurou minha mão outra vez. - Não sei dizer. É estranho, porque a maioria das mãos tem semelhanças. Veja bem, não estou querendo dizer que se você viu uma, viu todas, mas em geral é assim. Há padrões, sabe? Sorriu repentinamente, um riso estranhamente simpático, exibindo dentes muito brancos e evidentemente postiços e prosseguiu: - É assim que a adivinhação funciona. Faço isso para a quermesse da igreja todos os anos. Ou fazia, antes da guerra; acho que voltarei a fazer, agora. Mas uma jovem entra na tenda e lá estou eu, ostentando um turbante com uma pena de pavão que peço emprestada ao sr. Donaldson e "trajes de esplendor oriental", que é o roupão do vigário, repleto de desenhos de pavão e amarelo como o sol. De qualquer forma, eu a examino de cima a baixo enquanto njo estar olhando sua mão e vejo que usa uma blusa decotada quase até o umbigo, um perfume barato e brincos que vão até o pescoço. Não preciso de uma bola de cristal para lhe dizer que terá um lho antes da festa do ano que vem. - A sra. Graham fez uma pausa, os olhos acinzentados acesos de malícia. - Mas se a mão que você estiver segurando estiver sem anéis, é diplomático prever primeiro que ela se casará em breve. Eu ri e ela também. - Então, a senhora não analisa as mãos delas? - perguntei. - Só para vericar os anéis? Ela pareceu surpresa. - Ah, claro que examino. É que você já sabe com antecedência o que vai ver. Geralmente. - Fez um sinal com a cabeça indicando minha mão aberta. - Mas nunca vi um padrão assim antes. O polegar grande - nesse momento, ela realmente se inclinou para frente e tocou-o de leve -, isso não mudaria muito. Signica que você tem força de vontade e uma determinação que dicilmente pode ser contrariada. - Piscou os olhos para mim. - Imagino que seu marido já tenha lhe dito isso. Da mesma forma, isso aqui. - Apontou para o montinho carnudo na base do polegar. - O que é? - Chama-se Monte de Vênus. - Comprimiu os lábios nos com força, embora não conseguisse impedir os cantos de se elevarem. - Em um homem, eu diria que signica que ele gosta de mulheres. Para uma mulher, é um pouco diferente. Para ser delicada a respeito, farei uma pequena previsão para você e direi que seu marido provavelmente não se afastará muito de sua cama. - Deu uma risadinha surpreendentemente profunda e imoral e eu quei levemente corada. A idosa governanta examinou minha mão cuidadosamente outra vez, batendo com o dedo em riste aqui e ali para enfatizar suas palavras. - Bem, vejamos, uma linha da vida bem denida; está com boa saú

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