to e um guarda-roupa com mais esperanças do que roupas. O celular vibrava sem parar com o alarme insistente. Ela esticou o braço e desligou sem nem olhar. Sabia que tinha pouco tempo. A prova era às 1
da orelha. "Vamos lá, mais um dia." Ao sair de casa, o vento frio da manhã a envolveu. Andou até o ponto de ônibus com o fone de ouvido tocando algo instrumental - dizia que músicas com letra atrapalhavam seu raciocínio. O trajeto até a livraria durava 40 minutos. Era seu momento de pensar, sonhar, criar diálogos internos com advogados fictícios e imaginar audiências que ainda nem existiam. O ônibus veio cheio, como sempre. Sentou num dos bancos do fundo, com as pernas cruzadas e o livro aberto no colo. As outras pessoas mal percebiam sua presença. E ela gostava disso. Era melhor ser invisível do que ser julgada. Ao descer no centro, caminhou rápido pelas calçadas esburacadas até a livraria, onde já a esperava um monte de caixas com títulos novos para cadastrar. Rebeca adorava o cheiro de livro novo misturado ao de café passado. Era o único lugar do mundo onde ela se sentia calma. As histórias nas prateleiras pareciam sussurrar que tudo era possível - até mesmo os sonhos dela. A manhã passou devagar entre os livros e clientes apressados. Atendeu estudantes, professores, gente perguntando por romances baratos e senhoras procurando livros de autoajuda. Sorriu, indicou seções, organizou capas e até leu algumas sinopses escondida, nos minutos de folga. Quando deu meio-dia em ponto, Clara desligou o computador da livraria, guardou os materiais na bolsa e saiu correndo - a aula da tarde começaria em quinze minutos e ela ainda precisava pegar o ônibus. O transporte atrasou, como sempre. A cidade parecia conspirar contra quem tinha pressa e poucos recursos. Quando finalmente desceu no ponto da universidade, já faltavam dois minutos para o início da aula. - Droga, droga, droga... - murmurou, apertan