Amor em Dois mundos

Oi, meu nome é Camila, tenho vinte anos, sou solteira e moro em Rio de janeiro no bairro São Conrado . Sou dona de três lojas de roupas e herdeira de uma fortuna que minha avó me deixou. Ela faleceu há três meses, e desde então, herdei tudo o que era dela.

Sobre meus pais? Nem eu sei. Minha avó nunca quis me contar. Sempre que eu perguntava, ela respondia: 'Eu te dou tudo o que você precisa. Por que quer saber sobre seus pais?'

Minha melhor amiga é a Bruna, que conheci quando estava montando minha primeira loja. Hoje, ela é gerente de uma delas.

Ao longo da história, vocês vão descobrir mais sobre mim.

________________________________________________Primeiro capítulo ✨

Hoje foi um daqueles dias que não parecem ter fim. Desde a hora que acordei, a correria foi tanta que nem consegui parar para respirar direito. Assim que coloquei os pés em casa, a primeira coisa que fiz foi correr para o banheiro. Meu corpo implorava por um momento de descanso, mas a cabeça estava a mil com tudo o que ainda precisava ser feito.

Resolvi minhas necessidades no banheiro e, ao sair, segui direto para a cozinha. Lá estava Sandra, minha fiel amiga e ajudante, colocando a última camada de queijo ralado em uma travessa de lasanha que parecia saída de um comercial.

- Oi, Sandrinha! O que teremos de bom hoje? - perguntei, já com um sorriso cansado, enquanto me inclinava para espiar o que estava no fogão.

Sandra virou-se para mim, fingindo indignação, e enxotou minha mão curiosa que tentava abrir uma das panelas.

- Oi, menina! Hoje vai ter lasanha, mas para de mexer nas minhas coisas! Você está com uma cara de quem precisa de um banho. Vai logo tomar aquele banho relaxante na banheira, e depois você desce para comer - disse ela, com aquele tom maternal que só ela sabia ter.

- Boa ideia. Vou tomar meu banho e já volto - respondi, concordando.

Subi as escadas em direção ao meu quarto, mas no caminho parei em frente ao quarto que montei especialmente para homenagear minha avó. Sempre que passo por ali, sinto um aperto no peito e um conforto ao mesmo tempo. Entrei, como faço todas as noites, e fiquei olhando a foto dela em um pequeno altar que montei, ao lado de seus pertences mais queridos. Toquei o porta-retrato com cuidado e suspirei.

- Ah, vovó... a senhora faz tanta falta.

Depois de uma breve oração e alguns minutos de silêncio, saí do quarto e entrei no banheiro. Enquanto a banheira enchia, peguei meu celular e comecei a rolar os status das minhas amigas. Não demorou muito para que o status da Bruna, minha melhor amiga, chamasse minha atenção. Ela havia postado sobre o lançamento da nova coleção da loja onde trabalha. Não pensei duas vezes: tirei um print e logo publiquei em todas as minhas redes sociais.

Em seguida, entrei no Instagram e, como de costume, fui direto no perfil do Leo Dias, o rei dos furos. Mas a notícia que encontrei lá fez meu estômago revirar. Era sobre uma invasão policial em um morro chamado Roçinha. A legenda dizia que já havia cinco mortos confirmados em menos de meia hora.

- Que horror... onde vamos parar? - murmurei, sentindo uma mistura de tristeza e indignação.

Terminei meu banho no chuveiro, fiz meu skincare com calma e vesti meu pijama favorito, que ainda cheirava a amaciante. Desci as escadas com um pouco mais de ânimo, guiada pelo cheiro irresistível da lasanha de Sandra.

- Voltei, Sandrinha! - avisei, minha voz ecoando pela casa.

- Bem na hora, filha. A comida já está na mesa! - ela respondeu, com um sorriso orgulhoso.

Sentei-me à mesa e, no primeiro pedaço que levei à boca, quase soltei um suspiro de prazer. Sandra realmente tinha um dom. Enquanto comíamos, decidi comentar sobre a notícia que tinha visto.

- Acabei de ver que teve uma invasão em um morro... chamado Roçinha - falei, olhando para ela.

O rosto de Sandra mudou instantaneamente. Ela deixou o garfo cair no prato e me olhou com os olhos arregalados.

- Onde você viu isso, filha? Como está a invasão? Teve mortos? Quem está invadindo? - Ela disparou as perguntas sem respirar, visivelmente nervosa.

- Calma, Sandrinha. Quando li a notícia, já tinha cinco mortos, e é a polícia que está invadindo. Por que toda essa preocupação? - perguntei, surpresa com a reação dela.

Sandra hesitou. Ela tentou disfarçar, mas seu nervosismo era evidente.

- Nada, filha... é que quando essas coisas acontecem, eu chego tarde em casa, e fica difícil pegar o ônibus - respondeu ela, desviando o olhar.

Percebi que ela não estava dizendo tudo, mas decidi não insistir. O que quer que fosse, ela não estava pronta para falar.

- Não se preocupe. Eu te levo de carro ou, melhor ainda, você pode dormir aqui hoje.

Sandra pareceu aliviada com a sugestão e assentiu.

- Vou dormir aqui hoje, filha. Obrigada. Vou subir para o quarto de visitas - disse ela, já se levantando da mesa.

Enquanto ela subia as escadas mexendo no celular, fiquei pensando no tom de voz dela, na forma como suas mãos tremeram levemente quando segurou o prato. Algo na notícia sobre a invasão tinha mexido profundamente com ela, mas o quê? Decidi que, se ela quisesse me contar, faria isso no momento certo. Por enquanto, eu só podia garantir que ela estivesse segura.

Comi o último pedaço de lasanha em silêncio, perdida em pensamentos, enquanto a noite se aprofundava lá fora, trazendo com ela um peso que eu não sabia explicar.