Amor Subentendido

Naquele dia fui pra faculdade atrasada. Muita coisa aconteceu ao longo do caminho e parecia que tudo estava destinado a dar errado. Meu único conforto foi dar de cara com minhas amigas logo que cheguei.

“Finalmente dando o ar da graça dona Jade?” Minha amiga Luíza parecia pronta para fazer alguma piadinha a mais, quando eu rudemente a adverti que não estava em um bom dia.

Elas logo deixaram as brincadeiras de lado e ficaram preocupadas. Contei brevemente a história de como o pneu do ônibus em que eu estava furou, sobre o trabalho que esqueci de imprimir, e sobre ele. Aquele garoto insuportável que por azar tinha pegado as mesmas cadeiras que eu.

Enquanto eu contava, os olhos das meninas brilhavam, afinal, eu estava falando sobre o Alan, playboy da faculdade, moreno, alto, gostoso, e além de tudo isso, para mim, um completo babaca.

Quando eu terminei de contar o que ele havia feito na primeira aula que tivemos juntos, minhas três melhores amigas caíram na gargalhada. Eu não conseguia ver a graça. Pra mim nada de bom vinha daquele rapaz.

“Tá, peraí, então quer dizer que ele puxou a alcinha do seu sutiã para dar um exemplo de como não abordar um paciente, na aula de ética profissional?” Disse minha amiga Carla.

“Isso mesmo, sem a menor vergonha ou senso de noção.” Concluí.

“Amiga, eu dava tudo pra ser teu sutiã.” Júlia disse, e o grupo mais uma vez irrompeu em risadas, e dessa vez, eu estava rindo também. Mas, as risadas não duraram muito tempo, pois naquele minuto chegou a escrupulosa Mireli. Patricinha, terror da universidade, se achava superior à tudo e todos, nada nunca era bom o suficiente para ela e falsidade era seu sobrenome.

“Oi meninas!” Gritou com a voz esganiçada. “Também quero saber a piada! Pra ver vocês quatro rindo assim deve ser algo bombástico!”

“Oi Mireli, na verdade estávamos só relembrando de uma aula que tivemos semana passada, e falando nisso, temos que ir andando, nosso próximo período já vai começar.” Eu disse com toda a paciência que ainda me restava, enquanto começávamos a andar para a aula.

Só percebi que eu tinha esquecido minha bolsa no banco em que estávamos sentadas quando estávamos chegando na sala. Avisei as meninas e dei meia volta, correndo para buscar.

Quando cheguei lá, não havia bolsa nenhuma, então procurei por um tempo e percebi que alguém a havia levado. Foi aí que senti algo se aproximar de mim pelas minhas costas.

“É um assalto, estou com sua bolsa e quero seu celular” Disse o vulto preto atrás de mim que aparentemente segurava uma arma contra meu quadril.

Fiquei perplexa, não sabia como reagir, somos ensinados a não reagir com violência ou movimentos bruscos, mas no fundo eu sabia que a voz era familiar. Me virei com pressa e vi que o vulto era na verdade nada mais nada menos que o próprio Alan, gesticulando com os dedos para parecer uma arma, e com minha bolsa em seu braço esquerdo.

“Alan! Quem você pensa que é? Me dar um susto dessa maneira num horário que você sabe que passa pouca gente aqui! E o que está fazendo com minha bolsa, posso saber?”

Alan me fitou, e percebendo minha irritação iminente saiu da brincadeira e disse com sinceridade: “Desculpa Jade, vi essa bolsa aqui e quando olhei os documentos e vi que era sua iria levar para te devolver na nossa próxima aula juntos. Sei que mais uma vez te abordei de forma errada. Falando nisso desculpa pelo que fiz mais cedo na aula também.”

Naquele momento eu já estava super atrasada, peguei depressa minha bolsa, disse ao Alan que não havia problema e que só não queria que isso se repetisse novamente, e corri para aula.