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Entre Suspiros e Acasos

Entre Suspiros e Acasos

5.0
5 Capítulo
8 Leituras
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Uma advogada cínica que perdeu a fé no amor esbarra - literalmente - com um chef de cozinha sonhador e desastrado que vive entre panelas e romances falhados. O destino (e uma cláusula inusitada de um contrato de aluguel) os obriga a morar juntos por 30 dias. O que começa com conflitos e mal-entendidos se transforma em uma relação cheia de risos, lágrimas e redescobertas do que significa amar.

Índice

Capítulo 1 Acidente Contratual

Seul, manhã de primavera.

O som das teclas ecoava como um martelo dentro da sala fria e organizada do 23º andar do prédio jurídico HJ & Kim. A brisa da manhã batia de leve nas janelas espelhadas, mas não era suficiente para quebrar o ar denso da rotina ali dentro. Na mesa mais ao fundo, como um trono, estava Yoon Seol-Ah, vestida impecavelmente em um conjunto de alfaiataria cinza escuro. Seu coque estava preso com perfeição cirúrgica. Nenhum fio fora do lugar, assim como sua vida - ou ao menos, era o que ela tentava convencer o mundo.

Seol-Ah digitava com precisão cirúrgica, analisando uma cláusula de rompimento contratual como se estivesse dissecando um inimigo.

- A cláusula 12B não se sustenta juridicamente. Corte isso - disse, sem erguer os olhos, para sua assistente que mal conseguia acompanhar o raciocínio rápido da advogada.

Era a melhor naquilo que fazia. Vencer. Negociar. E manter o coração trancado atrás de muralhas feitas de cláusulas e vírgulas.

O celular vibrou. Era sua senhoria.

"O encanamento estourou. Seu apartamento precisa de obras emergenciais. O seguro cobre um mês de hospedagem temporária. Enviarei opções."

Seol-Ah franziu o cenho. Detestava mudanças. Detestava mais ainda coisas fora de seu controle.

Suspirou fundo e respondeu com objetividade.

"Preciso de um lugar tranquilo. Sem bagunça. Sem gente."

Do outro lado da cidade...

Em um bairro charmoso, escondido entre cafés indie e livrarias, o pequeno restaurante "Min's Table" fervilhava com aromas de alho, gengibre e óleo de gergelim. No centro da cozinha aberta, um homem de avental amarrado de forma bagunçada girava panelas com habilidade quase artística - Kang Min-Jae, o chef dono de um dos lugares mais acolhedores (e desorganizados) de Seul.

- Hyung! O gás do fogão 2 acabou! - gritou o irmão mais novo do balcão.

- Usa o maçarico, Soo-Hyun! Improviso é o tempero da vida! - respondeu Min-Jae, com uma risada contagiante, enquanto uma colher de metal voava de sua mão e caía dentro da sopa fervente.

Clientes riam. Ele ria também. Tudo em sua vida parecia uma comédia romântica esperando para dar errado. E ele adorava isso.

Exceto por uma coisa: o aviso de despejo que ele escondia atrás do quadro de receitas. Se não arranjasse outra fonte de renda, perderia o restaurante.

Dois dias depois...

O destino - essa entidade preguiçosa e irônica - decidiu brincar de cupido.

Seol-Ah, com três malas minimalistas e um semblante de desdém, subia as escadas do novo apartamento temporário, guiada por uma mensagem no celular:

"Espaço compartilhado estilo tradicional. Ótima localização. Tranquilo. Contrato aceito automaticamente pelo aplicativo."

Espaço compartilhado. Ela torceu o nariz, mas pensou: "Provavelmente um prédio com suítes isoladas. Nada que não possa suportar por 30 dias."

Mal sabia ela que o aplicativo de aluguel confundira as configurações e a enviara para um pequeno hanok modernizado... com morador ativo.

E esse morador, naquele exato momento, estava equilibrando um saco de arroz nos ombros enquanto cantava uma versão desafinada de uma música antiga.

- 🎵 "O amor é como jjajangmyeon, doce e salgado-AH!" - POFT!

A porta se abriu com um baque e Seol-Ah entrou como uma tempestade de elegância.

Min-Jae escorregou no tapete da entrada, derrubando o saco de arroz, e caiu direto aos pés dela.

Arroz voando. Um grito. Um palavrão. Um silêncio mortal.

Ela olhou para o homem caído no chão, com arroz grudado no cabelo e olhos arregalados.

- Você... invadiu minha casa? - disse ela, seca.

- Sua casa? Minha casa. Aluguei isso há dois anos! - ele rebateu, levantando-se rapidamente e se estapeando para tirar os grãos.

- Eu tenho um contrato. Válido por 30 dias. Assinado e confirmado via aplicativo.

Ele puxou o celular do avental e mostrou a tela.

- E eu tenho um contrato de moradia por tempo indeterminado. Isso aqui é um erro!

Silêncio. Ambos se encararam como dois gatos de rua prontos para lutar por território.

20 minutos depois...

Após uma ligação rápida (e agressiva) para o suporte, veio a explicação:

"Erro no sistema. A casa estava listada como vaga por engano. Mas como os dois aceitaram o contrato e há uma cláusula de multa severa para desistência antecipada, o sistema recomenda... co-habitação temporária, com ajuste nos termos."

- Co-habitação? - ela repetiu, como se fosse uma ofensa pessoal.

- Bem... sempre quis morar com uma advogada. Nunca tive ninguém que pudesse me processar tão de perto - ele brincou.

Ela não riu. Ele achou isso encantador.

- 30 dias. Sem contato. Sem intromissão. Eu preciso de silêncio absoluto - ela declarou, cruzando os braços.

- Perfeito! Eu também adoro silêncio... das 3h às 5h da manhã. O resto do dia, gosto de música, panela batendo e gente rindo.

Ela pensou em ir embora. Mas a cláusula de multa era absurda.

Ele pensou em sair. Mas precisava desesperadamente daquele dinheiro.

- Ok. Trégua de 30 dias. Sem invasões no banheiro. Nada de comer minha comida. - ela disse, firme.

- Fechado. Mas uma coisa: se eu cozinhar demais, é crime te oferecer um prato?

Ela não respondeu.

Mas o estômago roncou.

À noite...

Seol-Ah tentava se concentrar em um processo complicado no laptop. Mas o som de gargalhadas, panelas batendo e cheiro de carne grelhada invadia o ar como uma onda impossível de bloquear.

Ela fechou o laptop com um suspiro. Caminhou até a cozinha - pequena, charmosa, cheia de bagunça - e o encontrou dançando com uma colher de pau.

- Isso não é uma boate, senhor Kang. - disse ela.

- Ainda bem. Aqui a entrada é gratuita e a comida é melhor.

Ele serviu um prato. Colocou sobre a mesa.

- Bulgogi à moda da minha mãe. Primeira noite de convivência. Trégua gastronômica.

Ela hesitou. Sentou-se.

Primeira garfada. Silêncio.

- ...Está bom? - ele perguntou.

Ela mastigou devagar. Depois de alguns segundos, soltou:

- Aceitável.

Min-Jae sorriu. Era o elogio mais frio e encantador que já ouvira.

Final do capítulo:

Na madrugada, em seus quartos separados, ambos deitados, fitando o teto.

Ela pensava: "Trinta dias. Só isso. Depois, de volta ao controle."

Ele pensava: "Ela é mais complicada do que um soufflé... mas alguma coisa nessa mulher me faz querer descobrir todos os ingredientes."

E assim começava o convívio mais improvável... e talvez, a maior revolução emocional na vida dos dois.

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